sexta-feira, 10 de agosto de 2012

"Quem não tem nada a perder, não sabe quando parar."

Durante essa semana nossos Jovens Urbanos do Jardim São Jorge foram questionados sobre a redução da maioridade penal, fizemos uma enquete no inicio do encontro e a grande maioria se disse a favor da redução, mas após uma longa conversa e várias questões apresentadas a eles, muitos mudaram de ideia e trocaram seu voto na enquete, ainda ficamos empatados numa leve margem de erro.


"Eu acho que se o jovem tem capacidade de matar, ele tem que assumir a responsabilidade de pagar por isso também."

"O jovem vai roubar e acha que não vai ter consequência."

"Eu acho que se o ECA continuar protegendo casos como esses, o cara vai continuar roubando."

Essas foram algumas falas colocadas pelos jovens durante a discussão, falas que quem está nessa luta pela vida da juventude está mais do que acostumado a ouvir, engraçado não ter surgido a questão do voto com 16 anos. E o engraçado é que mesmo com essas falas, eles reconhecem que o sistema penitenciario que está  na sociedade hoje não serve para reabilitar ninguém.

"Dizem que na cadeia você sai pior do que quando você entrou."

Então pra que reduzir a maioridade penal então, se a Fundação Casa que é para menor não cumpre seu papel social, será uma penitenciaria para adultos iria cumprir?

"Eu não sou a favor da redução, porque não vai mudar nada, ele vai ser preso do mesmo jeito depois."

Com certeza, se ele vai entrar na cadeia e sair pior ele vai continuar roubando e matando antes e depois dos 18 anos.

Discussão calorosa e complicada, expomos alguns videos com dados de mortalidade juvenil, e envolvimento com o crime, e depoimento de um menor infrator. 

E para apimentar ainda mais a discussão os jovens foram convidados a levar a juri a história de uma menor que matou o padrasto.
Conto retirado do Livro: Te pego lá fora do Rodrigo Ciríaco.

Miolo Mole Frito

Meu sonho é matar meu padrasto. Essa noite eu consigo. Vou ferver o óleo e de madrugada jogar dentro do seu ouvido. Enquanto ele estiver com o sono pesado, dormindo que nem um menino.

Não será para ele não sofrer não, eu quero que ele sofra. Muito. Mas tem que ser na trairagem pra ele não me machucar mais, não mexer mais comigo. Nem com a minha irmã. Alias, eu avisei: faz o que quiser no meu corpo dolorido. Me bota pra lavar roupa, limpar a casa, sentar no seu colinho. Antes eu chorava, esperneava, mas agora... Agora eu desligo. Só que deixa a Beatriz de lado. Deixa a Beatriz.

Se encostar num fio...

Podia cuspir na minha cara, chupar o meu peitinho. Esfregar a minha testa contra a porta do armário, apertar o meu pescoço – como fez tantas vezes - mas, ela não. Ela ainda é ingênua. Não carrega esse riso triste, esse sangue pisado. O chumbo vazio.

Valeu o aviso?

Tudo bem. Quando eu estiver esquentando o óleo, vou lembrar bem da temperatura do seu cinto. A maneira que ele queimava o meu lombo. A agulha de crochê e a ameaça que você fez de enfiar dentro do meu olho. Espetar a minha retina como o dedo fura o bolo, lembra? Lembra Antônio? Eu lembro. A cicatriz ainda tá no meu rosto. Naquele dia você mandou eu sofrer e não soltar nem um pio. Quietinha. Nem um pio.

Esse é meu sonho professor. Esta noite eu realizo. Apagar a bituca do cigarro na bochecha de Beatriz só fez eu ter certeza do meu pedido. Sabia que carne queimada é fedido? Por isso que não sai da minha cabeça o tssssssssss do óleo escorrendo na orelha, fritando o lóbulo, amolecendo os tímpanos. Quem sabe assim ele escuta os gritos que eu não pude dar quando vinha pra cima com o corpo pesado, exalando cachaça. Quem sabe assim a minha mãe acorda e percebe o que fez com a gente. Comigo.

Sei que o senhor pode estar assustado prôfi mas, não se preocupe. Quando for corrigir essa Redação já estará tudo resolvido. Eu, com o pé na estrada. E o miolo mole, frito.

Num verdadeiro tribunal eles levaram a menina que jogou o óleo quente no ouvido do padastro a juri, não tem que reduzir a maioridade penal? Então, casos como esses também deve ser julgados. Mas esse caso é diferente, ele abusava dela. Quem garante? Ela disse isso na redação, como podemos saber se é verdade mesmo o que ela conta? Que história difícil essa. Mas vamos julgar.







E para uma pequena noção de um sistema de prisão decidimos levá-los a um dos piores, o DEOPS. Visitamos o Memorial da Resistência e tivemos o auxilio da Educadora Marina para conhecer a história do prédio e de como esse espaço foi utilizado na época da ditadura. Lembrem do detalhe que ela contou galera? Que haviam menores que era presos junto aos adultos. Exploração maravilhosa. 























E por fim, assistimos ao filme Ultima parada 174, que conta a história de Sandro um menor sobrevivente da Chacina da Candelária e autor do sequestro do ônibus 174 no Rio de Janeiro no de 2000  , história comovente que confirma que a redução da maioridade penal não é a solução. O filme mostra toda a trajetória vivenciada por Sandro antes do sequestro.



"Quem não tem nada a perder, não sabe quando parar."












3 comentários:

  1. Pessoal,

    Parabéns primeiramente pela discussão realizada sobre esse tema tão importante e que se encontra em debate. Depois pelo registro bacana de toda a trajetória e pela inicitiva da exploração. Fica como dica também o Pque da Juventude, onde tb é possível ver o espaço onde ficava o Carandiru. Novamente, parabéns!

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    1. Olá Fernanda, muito obrigada. Nós fomos ao parque da juventude anteriormente para começar a discutir sobre juventude num contexto de projeto de vida. Mas valeu a dica, vou anotar. Brigadão.

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  2. Oi Pessoal do PJU... segue meu blog....

    http://ecqc5.blogspot.com.br/

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